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Entrevista completa de Masashi Kishimoto e Mikio Ikemoto realizada no evento de fãs KONOHA EXPERIENCE 2024 em Paris

Confira a entrevista completa de Masashi Kishimoto e Mikio Ikemoto, realizada no evento de fãs KONOHA EXPERIENCE, organizado pela editora francesa KANA em agosto de 2024, em Paris – França.

Antes de começarmos a entrevista, uma pergunta: Kishimoto-sensei, Ikemoto-sensei, como está sendo Paris para vocês? Estão se divertindo?

Kishimoto-sensei:
“Estou aproveitando muito! Desde que cheguei à França, estive passeando por Paris, bebendo um delicioso champanhe, saboreando a culinária francesa… Entrei no modo férias. Mas ao encontrar todos vocês, o “modo trabalho” foi ativado de novo!”

Ikemoto-sensei:
“Tenho comido bem todos os dias — talvez até um pouco demais! Estou realmente com o estômago cheio e um pouco preocupado se acabei engordando! (risos)”


No início da serialização de NARUTO, Ikemoto-sensei trabalhou como assistente de Kishimoto-sensei. Desde os primeiros tempos da série, os dois vêm trabalhando juntos. Como funciona a dinâmica de trabalho de vocês na coautoria de BORUTO?

Kishimoto-sensei:
“Desta vez, o método de trabalho é completamente diferente. Em NARUTO, eu era o responsável pela história e pelos desenhos, enquanto Ikemoto-kun, que era meu assistente, cuidava dos fundos e desenhava incansavelmente os clones das sombras. Já em BORUTO, Ikemoto-kun é quem cuida de tudo — tanto da história quanto da arte.

Ou seja, BORUTO é, de fato, um mangá do Ikemoto.


Depois de desenhar uma série longa como NARUTO, e agora com BORUTO também somando um bom número de volumes, como é sua relação com os temas que desenham? Vocês têm preferências ou dificuldades?

Kishimoto-sensei:
“Gosto de desenhar cenários, paisagens japonesas e animais. Já personagens femininas… não são meu ponto forte.”

Ikemoto-sensei:
“Ao contrário do Kishimoto-sensei, eu sou bom em desenhar personagens femininas. O que eu acho mais difícil são os Kage Bunshin.”

Kishimoto-sensei:
“Acho que a culpa é minha por ter feito ele desenhar clones demais (risos). Teve cena com mais de 1.200 clones!”


Como você deve ter percebido, na França, Naruto é um dos heróis de mangá mais populares, sendo um dos personagens fictícios mais amados por várias gerações. Já se passaram muitos anos desde que o mundo de NARUTO nasceu. Como você se sente sobre isso?

Kishimoto-sensei:
“Já se passaram quase 10 anos desde que NARUTO chegou ao fim, mas poder encontrar todos vocês hoje e ver a reação calorosa dos fãs me deixa realmente feliz. Muito obrigado. No palco, pouco antes, tive que me segurar para não chorar.
Sou muito grato. De verdade, muito obrigado.”


Atualmente, NARUTO é considerado uma das obras mais famosas com o tema de ninjas. Há momentos em que você sente diretamente esse nível de popularidade?

Kishimoto-sensei:
“Claro, no começo eu nunca imaginei que a série duraria tanto tempo e muito menos que seria tão bem recebida fora do Japão, como aqui na França. Ao ver a reação de vocês, percebo como NARUTO é realmente valorizado, e isso me deixa muito feliz. Mas também é verdade que nem sempre as coisas dão certo… Então, eu me esforço para não me deixar levar demais pelo sucesso, mas também para não me abater demais nos momentos ruins.

O que aprendi durante a serialização é que o mais importante é manter a calma. Aguentar firme diante das dificuldades e manter uma vida regrada — isso é essencial.”


Durante a criação de NARUTO, Kishimoto-sensei comentou que foi influenciado não apenas por animes, mas também por filmes de artes marciais — especialmente kung fu e comédia. Ikemoto-sensei, você também tem esse tipo de influência em BORUTO?

Ikemoto-sensei:
“Quando era criança, eu assistia muitos filmes de kung fu, mas conforme fui crescendo, acabei me afastando um pouco. Depois, assisti ao filme Matrix e descobri que ele tinha sido fortemente influenciado por filmes de kung fu, como os do Jackie Chan. Isso reacendeu em mim aquele sentimento de quando eu era criança e adorava esse tipo de filme.
Então, acho que Matrix teve um grande impacto sobre mim.”


Um dos elementos mais marcantes de BORUTO são os personagens elegantes e o design refinado. As cenas de luta são mais detalhadas e os figurinos, cuidadosamente pensados. Como você equilibra isso?

Ikemoto-sensei:
“Muitas vezes me dizem: “Os detalhes são muito complexos, deve ser difícil de desenhar”, ou “é tudo muito delicado”, mas na verdade, nem sempre é assim. Só porque um design é simples, não quer dizer que ele seja fácil de desenhar. Claro, às vezes leva tempo, mas esse cuidado com o design me dá motivação.

No caso de BORUTO, esse processo é realmente o que me impulsiona — então não acho que designs elaborados sejam necessariamente difíceis.

Ao criar um personagem, sempre começo imaginando sua personalidade e forma de pensar. Esse é o primeiro passo. Depois, penso: “Que tipo de roupa essa pessoa escolheria?”. Para mim, as roupas refletem a personalidade e o estado emocional do personagem. Se for alguém indiferente, isso também se reflete na maneira como se veste. Por isso, design de roupa e personalidade são inseparáveis para mim.”


Ikemoto-sensei, falando em personalidade e estado mental, os vilões de BORUTO parecem um pouco menos “humanizados”. Diferente de NARUTO, não sabemos muito sobre o passado deles ou o que os levou a agir. O que você leva em consideração ao criar os inimigos em BORUTO?

Ikemoto-sensei:
“Em NARUTO, os inimigos tinham um propósito claro e lutavam com Naruto por razões específicas. Cada um tinha seu motivo.

Só que o Kishimoto-sensei já fez tudo isso em NARUTO. Especialmente no que diz respeito às batalhas, ele realizou tudo o que queria. Não havia mais o que acrescentar e repetir os mesmos tipos de vilões não teria graça.

Por isso, em BORUTO, escolhi antagonistas mais irracionais. Figuras que representam obstáculos à existência humana e que, por isso, inevitavelmente entram em conflito com os protagonistas. Era necessário apresentar inimigos diferentes dos que existiram em NARUTO.”

Kishimoto-sensei:
“(Risos) Como eu já fiquei com as “melhores partes” em NARUTO, acho que o Ikemoto-kun está passando por um momento bem difícil agora. É complicado de desenhar, então eu realmente o apoio — e espero que todos vocês também!”


Entre a publicação de NARUTO e BORUTO, houve mudanças no que se espera de um mangá shōnen? Em 2024, as expectativas são diferentes do que eram quando NARUTO começou?

Kishimoto-sensei:
“Claro, em mangás shōnen, há várias coisas importantes, como ação e história, mas acima de tudo, o essencial é que o personagem reflita o que o autor imagina e vivenciou — que o personagem pareça real, e que o autor consiga se colocar dentro dele para desenhá-lo. Para mim, isso é indispensável para um bom mangá shōnen de longa duração. Autores que entendem isso naturalmente desenham dessa forma quando criam uma boa série longa. Então, penso que o que é essencial não mudou.”

Ikemoto-sensei:
“Concordo com o Kishimoto-sensei, e acrescento que, em mangás shōnen, é essencial haver batalhas contra inimigos. E esses inimigos precisam ser tão cativantes quanto o protagonista.”


Falando em inimigos, um dos encantos de Naruto é que, não importa o quão malignos sejam, a história estende a mão a eles. Apesar de ser um mangá sobre lutas e ninjas, ele propõe que nem todo vilão é totalmente mau desde o começo. O que você acha disso?

Kishimoto-sensei:
“Eu acredito fundamentalmente que todas as pessoas nascem boas, e que a razão de não permanecerem boas é o ambiente. Quando se tornam adultos, elas mudam. O importante é como os adultos ou mentores que as crianças encontram as guiam. Isso pode levá-las tanto ao bem quanto ao mal.

Além disso, mesmo os que parecem maus, será que são realmente totalmente maus? Talvez nem tanto. No fim, definir o que é bem e o que é mal é algo complexo.”


No começo de NARUTO, especialmente nas histórias de Rock Lee, Guy e o próprio Naruto, o talento e o esforço são bastante enfatizados. Porém, logo se revela que Naruto é filho do Quarto Hokage. Você nunca considerou fazer do Naruto um ninja comum, sem um legado tão especial?

Kishimoto-sensei:
“É uma pergunta muito difícil, mas que toca no cerne da questão.
No início, eu desenhava o Naruto como um personagem que luta vindo de uma classe baixa. Isso se conecta comigo mesmo no passado — eu era um garoto pequeno vindo do interior, que queria ser reconhecido, mas não conseguia por ninguém. Eu coloquei todo esse sentimento no Naruto.

Enquanto eu desenhava, comecei a ganhar reconhecimento ao redor do mundo. Esse desejo de ser reconhecido foi satisfeito, e por um tempo tive dificuldade em continuar desenhando Naruto. Durante esse período, percebi que talvez os que vêm de famílias tradicionais e nobres também tenham suas próprias angústias. A pressão de corresponder às expectativas é enorme.

Então, decidi mudar o foco e explorar esse lado também em NARUTO. Sobre essa temática, um dia pretendo desenhar a resposta em um mangá, então peço paciência para os fãs.”


Kishimoto-sensei, Ikemoto-sensei, ao construir as histórias de NARUTO e BORUTO, houve algo que foi mais difícil para vocês do que em outras obras? E, por outro lado, alguma parte em que vocês conseguiram realizar completamente o que planejavam? Por favor, falem com detalhes.

Kishimoto-sensei:
“Para mim, o mais difícil foi o arco do Pain. Eu sentia que, de certa forma, o que o Pain dizia também era justiça, mas o que o Naruto dizia também poderia ser. Se ambos são justos, eu realmente tive um grande dilema sobre como resolver aquilo. Foi uma parte muito difícil para mim. Por outro lado, estou satisfeito com o final da relação entre Naruto e Sasuke.”

Ikemoto-sensei:
“Ao contrário do Naruto, o Boruto tem tudo e não está insatisfeito. Ter o pai como Hokage às vezes pode ser complicado, mas Boruto não tem o objetivo de ser Hokage desde o começo, como Naruto tinha. Para quem observa de fora, isso poderia tornar o protagonista menos interessante, especialmente no arco da primeira parte da história. Nesse contexto, entrou em cena o Kawaki, que se tornou um tipo de força motriz para a história. No arco da fase 1, pode-se até dizer que Kawaki foi o protagonista em certa medida. Com a troca de papéis entre Kawaki e Boruto, o Boruto conseguiu se destacar como protagonista — e acredito que isso funcionou muito bem.”


Kishimoto-sensei, seus fãs originais agora são uma geração com filhos, e essas crianças também se tornaram fãs de NARUTO. Naruto influenciou a cultura pop posteriormente. Michael B. Jordan, diretor de Creed III, citou NARUTO como referência para seu filme. Há rappers que também citam NARUTO. Isso é um grande fenômeno. Você mesmo se tornou o Hokage que aparece no mangá. Então, qual é seu novo sonho daqui para frente?

Kishimoto-sensei:
“É uma pergunta difícil. Acho que é importante ter um objetivo, mas agora quero valorizar meu tempo com a família. Também quero aumentar as oportunidades de encontrar os fãs assim como hoje.

Enquanto cuido da família e dos fãs, talvez surja em mim o desejo ou a vontade de criar uma nova obra, ou até mesmo encontrar algo novo.”


Ikemoto-sensei, agora que BORUTO está consolidado, quais são seus sonhos?

Ikemoto-sensei:
“BORUTO começou como continuação de NARUTO, mas Naruto é uma figura gigantesca, o que torna tudo muito desafiador. Boruto está finalmente começando a se firmar como um verdadeiro protagonista. Mas será que ele poderá se igualar ao pai como herói? Talvez até o supere…

Não sabemos o que o futuro reserva. Isso depende do apoio de cada um dos leitores. Por favor, continuem nos apoiando.”

NOTA DO AUTOR(A)

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