Naruto Shinden: Dia em Família - Capítulo 1
- Página Inicial
- Naruto Shinden: Dia em Família
- Capítulo 1 - Pai & Filha: correndo juntos por Konoha
Ele não voltou para casa — mas precisamente, ele estava até que voltando para casa para o feriado do Dia em Família, mas já era de manhã —, o sol nascia através do horizonte. Ele provavelmente dormiria até o final da tarde no momento que chegasse em sua cama, mas se ele fizesse isso, perderia o dia todo.
Naruto cambaleava pela zona residencial vazia, sentindo-se um bêbado — não que ele tivesse bebido, mas ele estava tão exausto que se sentia como um.
“Haaa…aah”, um grande bocejo saiu de sua boca, e lágrimas formaram-se no canto de seus olhos. Há quantos dias ele não dormia? Ele andava trabalhando tanto que nem sabia qual era a resposta. Revisar todos aqueles documentos dava muito trabalho; uma vez que os comerciantes descobriram sobre a oficialização do feriado do Dia em Família, eles inundaram o escritório do Hokage com pedidos para montar barracas e quiosques. Os lugares tinham que ser seguros e os seguranças designados. Ele só conseguiu terminar todo o trabalho uma hora atrás.
Quando Naruto estava prestes a ter um colapso de cansaço, Shizune, incapaz de vê-lo daquela maneira, ofereceu-lhe uma pílula capaz de fazer com que ele se mantivesse acordado por mais tempo, porém a pílula tinha um cheiro de peixe podre, então ele havia respeitosamente negado. Pensando sobre a possibilidade de ter tomado a pílula, ele se arrependera de ter sido tão bobo e não ter a aceitado quando teve a oportunidade.
Sonolência era coisa séria. A pilha de lixo deixada na calçada parecia confortável e chamativa, um lugar perfeito para um cochilo, Naruto sentiu até mesmo uma pontada de inveja do gato que dormia em cima de um saco de lixo, parecendo feliz.
De acordo com seu antigo mestre Jiraya, tudo que tinha relação com “álcool, dinheiro e mulher” poderia arruinar um ninja. Então, se ele sucumbisse ao desejo de dormir, ele ainda seria um excelente ninja. Ele estaria em seus totais direitos caso batesse ambas suas mãos — como um verdadeiro ninja faria — e acordasse o gato sonolento ao grito de “Te peguei!”. A falta de maturidade quanto a esse ato, no entanto, era outro assunto.
Enquanto Naruto desculpava-se silenciosamente ao gato que ele acabara de assustar, sua casa finalmente surgiu à vista — que parecia um bolo de duas camadas com um balde em cima. Alguns achavam uma residência muito humilde para o Hokage que administrava toda uma vila morar, porém, se eles construíssem uma mansão luxuosa, seu falecido mestre iria acabar com ele dizendo que ele estava “deixando o luxo do dinheiro apanhá-lo”. E uma casa luxuosa também nunca fora o desejo de Naruto.
“Estou em casa”, ele disse baixinho enquanto abria a porta da frente, a fim de não acordar a esposa e os filhos — que provavelmente estavam dormindo (e ele também nem tinha voz para falar mais alto dada a sua situação atual).
Porém, a entonação de sua voz ao proferir “casa” acabou saindo mais alto do que ele imaginava, e o tom fez parecer mais que ele estava fazendo uma pergunta do que uma afirmação — “Estou com casa?”.
“Himawari?”, por alguma razão, sua filha, Himawari, estava dormindo na entrada da porta. “Hima? Ei, está tudo bem?”.
Ela estava completamente enrolada num cobertor, então provavelmente ela não havia desmaiado por alguma doença ou coisa do tipo. Naruto então chacoalhou seus ombros com delicadeza, e então, seus olhinhos se abriram levemente.
“Oh, papai! Você está em casa”.
“Por que está dormindo aqui?”.
Himawari, com os olhos inchados por ter acabado de acordar, e Naruto, com os olhos inchados pelo sono, encararam-se por um momento. A resposta da situação de ambos parecia simples: o sono os dominava.
“Hmmm?”, Himawari coçou os olhos, ainda sonolenta. De repente, um som de batida pôde ser ouvido perto de suas mãozinhas. “Oh!”, disse ela, com os olhos brilhando em expectativa. “Papai, olha! Compre isso!”.
Antes amassado, ela estendeu uma de suas mãozinhas através do cobertor, mostrando um panfleto — desdobrando-o.
“Nove caudas… Kuraa-ma…”, Naruto leu o texto enorme em voz alta. Junto com o texto do panfleto também continha uma imagem de um ovo gigante, e ao lado, uma raposa com muitas caudas felpudas.
Uma raposa com muitas caudas felpudas que se chama Kuraa-ma…
Sua cabeça começou a formular perguntas, mas havia coisas mais importantes no momento. Ele olhou para baixo, onde o cobertor e Himawari se encontravam, “Você… esperou aqui todo esse tempo para me mostrar isso?”.
“Aham!”, Himawari acenou com a cabeça. “Quando a mamãe saiu ontem, ela disse que você estaria em casa logo”.
“Uhn…”, o jeito inocente e alegre de Himawari machucou seu coração. Aquilo era verdade, ele realmente havia dito a sua esposa, Hinata, que ele tentaria finalizar todo o seu trabalho e voltar para casa um dia antes do feriado do Dia em Família para que eles pudessem curtir o dia de pais e filhos.
“Desculpe-me. Eu estou atolado de trabalho… que nunca acaba”, ele passou uma mão em seu cabelo enquanto formulava suas desculpas, e então, franziu o cenho. “Sua mãe saiu?”, ele levantou o olhar para as escadas, focando no segundo andar… ele não sentia o chakra de Hinata em lugar algum da casa.
“Aham. Ontem de manhã. Ela disse que iria no Vovô”.
Duas pessoas se encaixaram na categoria “Vovô” para Himawari. O pai de Naruto, Minato, quem não era possível, pois falecido há mais de trinta anos. O avô a quem Himawari se referia era Hiashi Hyuga.
Hiashi era o líder da família Hyuga.
“Ela foi no Vovô? De novo?”.
Ela havia planejado passar por lá para vê-lo? Ontem de manhã já faz um dia inteiro. Ela não me disse nada sobre ficar fora o dia todo.
Na verdade, era para o próprio Naruto estar em casa desde noite passada. Hinata havia apenas aceitado suas palavras, que era confiar as crianças a ele. Resumindo, ele havia traído a confiança de sua esposa.
Ahh, eu pisei feio na bola, Naruto pensou ao sentar-se na soleira da porta, cabisbaixo.
“Papai, você está bem? Por que você está parecendo o Senhor Tartaruga agora?”.
“Oh… não é nada… sério…”, ele levantou-se novamente, abanando as mãos. “Você está bem, Himawari? Sua mãe está fora desde ontem, não? O que você comeu?”.
“Mamãe tinha feito o café da manhã e o almoço para mim. Mas não tinha janta”, Himawari olhou para o segundo andar através dos ombros. “O Boruto-niichan fez a janta para mim”.
“Ele fez?”, seguindo o olhar de Himawari, Naruto também encarou o segundo andar, onde ficava o quarto de Boruto. Ele podia ouvir um ronco fraco vindo do segundo andar.
Esse garoto… é realmente um irmãozão, hein.
“He-he. É sério? Boruto cozinhou?”, Naruto coçou a ponta do nariz com o dedo, tentando esconder o sorriso enorme no rosto. “O que ele fez?”.
“Hmmm”, Himawari baixou a cabeça e pensou por vários segundos. “Um negócio com ovo frito e carne frita! Oh, e tinha arroz!”.
“Ah, é?”. Apesar dela não ter dado o nome do prato, só com os ingredientes ele já possuía uma vaga ideia do que ela comera. O mais importante era que Boruto cuidara de sua irmã caçula. Tudo ocorrera bem.
Ou quase.
Agora, parando para pensar sobre o assunto, Naruto começou a sentir um cheiro de queimado vindo da cozinha. Ele imaginava que havia algum guardanapo queimado e mais uma pilha de louças sujas na pia. “Bom, o papai vai pensar no que vamos jantar hoje. Mas por agora, deixa só eu dormir um pouquinho”, ao dizer aquilo, um bocejo seguiu suas palavras. “Você deve estar cansada também, não, Hima? Você precisa de um sono apropriado na sua cama, e não no chão duro. Quer que o papai te leve pra cama?”, e então, se aproximou para pegar a filha no colo.
“Não!”, ela empurrou seus braços, mostrando determinação.
“Por quê?”, a reação inesperada da filha fez com que ele ficasse com a feição séria.
“Você não pode dormir!”, Himawari balançou o folheto na frente dele — o que falava sobre a raposa Kuraa-ma, “Precisamos comprar isso agora, por favor?”.
“Uh, oh!”, Naruto então percebeu que não era nada para se preocupar. “Eu entendi. Mais tarde vejo isso. Eu estou esgotado”.
“Mais tarde não dá. Olhe! Veja isso!”, Himawari apontou para algo específico no folheto, Promoção Especial! Somente no Feriado do Dia em Família! Era uma campanha para se aproveitar do feriado. Algum comerciante havia lhe pedido autorização para aquilo? As maneiras astutas como usavam todas as oportunidades para fazer uma venda faria até mesmo um ninja usuário de jutsu ocular estalar a língua em vergonha. “Viu? Só hoje é possível comprar”.
“Não há nada que você não possa comprar outro dia. Se você puder esperar até seu aniversário, posso lhe comprar vários desses brinquedos. Uma montanha de brinquedos, `ttebayo!”.
“Nãaaaao!”, Himawari rejeitou sua proposta de imediato, seu gritinho ecoou por sua cabeça — que implorava por descanso. A mãozinha que segurava o folheto baixou-se lentamente, e seu olhar era duro. “Você nunca cumpre suas promessas”.
“Hm”, suas palavras lhe acertaram direto no estômago. Ele queria desesperadamente negar, mas infelizmente, sua filha tinha total razão. Ele havia prometido várias vezes a ela que a levaria para sair, mas como sempre tinha trabalho para concluir, enviava um clone das sombras. E no fim, o clone desaparecia em algum momento e ele era descoberto.
“Confia no papai”, ele disse mesmo assim. “Eu juro que vou levar você para brincar mais tarde, ok?”.
Himawari emburrou — as bochechas cheias de ar — e não disse mais nada.
“Ha ha… ha!”, Naruto saiu da entrada da casa, com uma risada fraca, em direção ao quarto. A cada degrau da escada, ele podia sentir os olhos de Himawari em suas costas. Ele cessou o passo no quinto degrau. Colocando as mãos na cintura, ele respirou fundo, o rosto virado para o chão.
“Hah!”, ele bateu em suas bochechas o mais forte que pôde.
“Pa—papai?!”.
Ele virou-se — encarando uma Himawari muito surpresa — com um enorme sorriso no rosto. “Vou tomar um banho rapidinho! Você, fique pronta, beleza?”.
Himawari piscou várias vezes de maneira surpresa. “Eba!”, ela sorriu triunfantemente e correu para seu quarto no segundo andar.
Depois de ouvir o barulho da porta se fechando, Naruto bateu novamente nas bochechas com a palma das mãos — dessa vez, mais forte do que antes.
_______
“Mas o que…”.
Parado em frente à Loja de Brinquedos Matsuda, uma loja de brinquedos que ficava na parte mais antiga da cidade, Naruto ficou estupefato. Matsuda não poderia ser comparada com as grandes lojas na parte nova da cidade em termos de tamanho e variedade. Mas diferente das grandes lojas, que ordenava de maneira aleatória todos os brinquedos, Matsuda continha os brinquedos que sempre calhava de serem os mais procurados pelas crianças. Um grande exemplo foi o último videogame lançado, e eles foram espertos em pararem de comprar de seus fornecedores quando as crianças perderam o interesse. Também há o fato de que eles sempre focam em vender algum personagem que outras lojas acham que será um fracasso, e no fim, eles acabam sendo a loja que lança tendência.
Matsuda era a loja de brinquedos favorita de Naruto. E não era por ser a loja com as maiores vendas e estar entre as melhores, mas porque — mais do que tudo — era próximo de sua casa. Toda vez que ele passava em frente à loja, ele se lembrava das empolgações de Himawari por conta dos brinquedos na vitrine, ou de Boruto ainda pequeno, todo feliz por causa de um brinquedo novo — e aquelas lembranças aqueciam seu coração.
E naquele momento, a entrada de Matsuda estava bloqueada pela multidão a sua frente, várias pessoas estavam espremidas uma nas outras, tentando chegar perto da loja, e pareciam estar protestando sobre alguma coisa. A maioria ali eram mulheres de sua idade ou até mais velhas, e elas gritavam alto.
“Ei! Ande logo e abra a loja!”.
“Por quanto tempo pretende nos fazer esperar?! O que você vai fazer se nossas pernas endurecerem a ponto de fusionarem no chão!? Se nossas pernas se tornarem pedras, viramos fantoches, não?! Você pretende nos usar para treinos de shuriken?!”.
“Sabe como chamamos isso?! Lojinha de Daimyo! Me! Ti! Dos! Estão se achando demais, Matsuda!”.
Ainda era muito cedo, não estava nem próximo da hora da loja abrir suas portas.
Naruto assistia tudo à distância e então, olhou para Himawari ao seu lado, os olhos dela também arregalados como os dele. “Não pode ser que todo mundo esteja aqui por causa daquele folheto”.
“Provavelmente é sim. Kuraa-ma é super popular agora”.
“Hum”, foi tudo que Naruto pôde responder, ainda sem acreditar na quantidade de pessoas a sua frente.
“Senhoras! Por favor, acalmem-se!”, um pedido desesperado surgiu, a voz era clara e firme apesar dos gritos da multidão. A voz pertencia a uma vendedora da loja Matsuda. Ela estava encarando toda a multidão, e parecia uma zebra prestes a ser devorada por leões. “A loja irá abrir em breve! Para evitar aglomeração dentro da loja, por favor, entrar um de cada vez! Vou pedir para que façam uma fila, então a pessoa na frente—”.
“Uma fila?! Você só pode estar de brincadeira!”.
“Que loucura! Você por acaso sabe dizer quem é o primeiro ou o segundo?”.
“Não… bem…”, a vendedora se encolheu um pouco.
“Ah tá! Então você vai tomar alguma providência se algum idiota cortar a minha frente?!”.
“Nesse caso, eu irei distribuir senhas aleatoriamente”, a vendedora sugeriu, “Então a pessoa que entrar primeiro—”.
“Senhas! Há! Não venha com palhaçadas! Meus filhos estão em casa doentes por essa coisa! Agora se apresse e abra essa loja!”.
“Isso mesmo! Abra!!!”, várias vozes surgiram para apoiar a última. Parecia que todos os seus filhos imploraram por uma Kuraa-ma, e todas estavam esperando pela abertura da loja antes mesmo do sol nascer.
Acho que é isso que querem dizer quando falam que mães são mais fortes, Naruto pensou, pesaroso — ou melhor, ansioso. Ele tinha uma leve impressão de que a vendedora seria massacrada por todas aquelas mães. Então eu terei que enfrentar todas essas mães raivosas para conseguir uma Kuraa-ma?
E se Hinata estivesse entre aquelas mães? Ela iria se encolher diante daquele rebanho de mães? A resposta veio de imediato a sua pergunta. Apesar de ser uma mulher tremendamente gentil, seu coração era feroz. Ele não tinha dúvida de que ela iria partir pra cima para conseguir o que precisasse pelo bem de sua filha.
“Eu não sabia que essa tal de Kuraa-ma era tão popular. Que brinquedo é esse?”, ele perguntou.
“Hmm”, Himawari deu a ele um sorriso inocente. “Você cria essa raposinha, um espírito de raposa com nove caudas”.
“E o nome da raposa é `Kuraa-ma`?”.
“Aham. É super fofa, mas me disseram que a verdadeira não é fofa igual. Tipo, seus olhos são estranhos”.
“Hm”, Naruto pensou sobre sua resposta. “Isso é verdade. Ela realmente tem olhos diferentes”.
“Papai, você já viu a verdadeira Kuraa-ma?”, os olhos de Himawari se arregalaram em curiosidade.
“Espera um momento”, ele finalmente percebera de que aquela Kuraa-ma era mesmo a Kurama. Ele começou a se recordar de ler um documento que pedia permissão para adquirir direitos de merchandise sobre a raposa de nove caudas. Kurama — uma vez conhecida por sua força catastrófica, a criatura que a aldeia inteira uma vez temeu — agora era um produto, um objeto que as pessoas gostariam de comprar. O pequeno espinho que ainda estava fincado no coração de Naruto caiu naquele momento. O ódio e o medo direcionados a Kurama haviam desaparecido, e ele sentia que podia finalmente se despreocupar com aquilo. Ele recordava de ter assinado os papéis e permitido o requerimento dos direitos, mas nunca sonhou de que aquilo um dia iria fazer com que um brinquedo de raposa fosse existir para crianças…
Naquele momento, ele percebeu que estava certo em se sentir feliz com o acontecido. Naruto pensou sobre toda a situação enquanto ouvia sua filha falar alegremente.
“Primeiro é só um ovo, você precisa cuidar, aquecer e dar amor, e então, nasce!”.
“Raposas nascem de ovos?”, parecia que tudo estava errado, e ele começou a se indagar. Ele parecia mais confuso do que nunca.
“Ela fica toda redonda e feliz se você lhe der um pouco de ração para comer. A ração é chamada de `hyorogan` e existe de vários tipos. Se você alimentá-la com a vermelha, então seu pelo fica mais escuro”.
“Essa Kuraa-ma come coisas bem fofas, então”.
“Se você bater na cabeça dela, vocês podem brincar juntos”, ela murmurou.
“Então você pode bater na cabeça dessa Kuraa-ma”, ele imaginou sua filha dando um forte tapa na cabeça da raposinha fofa estampada no folheto. Era uma imagem bem divertida, mas ele sabia que as crianças não iriam ter força para aquilo. Mesmo assim, um sorriso surgiu em seus lábios. “Então nasce de um ovo, e você o alimenta. Sei lá, parece que estamos falando de um bebê”.
Himawari piscou várias vezes, deixando claro que não entendia a colocação do pai.
Quando o sorriso de Naruto começou a desmanchar, uma voz surgiu de dentro de si. “Ei, quem você está chamando de bebê?!”.
Era Kuraa-ma…
…para ser mais exato, era a verdadeira Kurama. A raposa parecia completamente insatisfeita, como se nunca esperasse ser tratada como um bebê e parecia irritada com aquilo, mesmo que fosse somente uma figura fictícia de sua verdadeira essência. Aquilo seria um problema tardio se aquele sentimento continuasse. Naruto estava prestes a respondê-la quando um dos clientes gritou por ele do meio da multidão, fazendo-o com que perdesse a chance de falar com Kurama.
“Oh? Veja só se não é mesmo o Naruto!”.
“Kiba! Que estranho encontrá-lo por aqui!”.
A voz pertencia a um de seus antigos colegas de classe da Academia Ninja, um companheiro de guerra que ficara ao seu lado entre a vida e a morte por diversas vezes: Kiba Inuzuka. O cabelo que sempre esteve bagunçado desde criança, agora estava penteado para trás, dando-lhe uma aparência mais séria com seu queixo arredondado.
Uma coisa branca se movimentou ao seu lado, e era seu cachorro, Akamaru. Ele se aproximou de Naruto, como se quisesse escapar da multidão furiosa de mães, e rapidamente se deitou. Ele já estava muito velho e, provavelmente, aquela barulheira lhe estava sendo irritante.
E então, um filhote se aproximou também, Akemaru, que se parecia muito com Akamaru quando filhote.
“Não venha falar de estranho, eu posso muito bem dizer a mesma coisa de você aqui com sua filha. E então, pequenina, está fazendo compras com seu pai?”.
Himawari estava prestes a fazer carinho em Akemaru, mas quando Kiba se direcionou a ela, a mesma correu para se esconder atrás das pernas do pai.
“Qual é, não é legal não dizer `olá` para as pessoas”. Naruto tentou fazer com que ela pedisse desculpas pela falta de educação, mas Kiba parecia não se importar com aquilo.
“Esquece isso, está tudo bem. Vergonhosa assim, com medo de pessoas novas, ela herdou isso da Hinata. Mas caramba, ela cresceu bastante, hein? Ela estava desse tamanho da outra vez”, ele levantou as mãos na frente do peito para indicar um espaço de cerca de trinta centímetros.
“Aham, mas ela nunca foi pequena desse jeito”, Naruto interveio. “Ela não é um filhote de cachorro”.
“Como se você tivesse noção, né? Especialmente você, que a vê todo dia”, Kiba riu provocador e então continuou, “Enfim, estamos aqui, e pelo jeito, ela também quer aquela Kuraa-ma, hein?”.
“Sim, Himawari me implorou por uma”, ele passou a mão no cabelo da filha que ainda se escondia atrás dele. “E você? Não me diga que você se cansou dos seus cachorros e resolveu substituí-los por uma raposinha, hm?”.
“O quê?! Que viagem! Uma amiga me pediu uma, então…”, Kiba parecia enrolar o que dizia, “Na verdade, ela não me pediu nada. É que eu vi a raposa no folheto e fiquei pensando o quão fofa ela parecia, então imaginei… que eu pudesse surpreendê-la com uma”, seus olhos dispararam, sua voz baixando cada vez mais.
Naruto o encarou completamente surpreso.
“Tá me olhando assim por quê?”, Kiba exigiu.
“É só… uma surpresa para sua namorada?”, ele disse. “Isso é ótimo! A Hinata se preocupa com o fato de você e o Shino ainda serem solteiros”.
“Isso não tem nada a ver com o antigo Time 8!”.
“Aham. Então, sua namorada gosta de raposas”, Naruto o provocou.
“Deixa eu te explicar direitinho!”, Kiba protestou. “Ela na verdade é uma mulher durona que ama gatos. Na verdade, quando se trata de gatos, estamos falando de sensibilidade, não? De qualquer forma, ela é uma mulher muito devotada! E ela tem sim uma quedinha por raposas fofas”, ele parecia estar nervoso com nada aparente, e tentava manter a compostura. “Mas bem, encontrar você por aqui, não foi um timing perfeito”.
“O que você quer dizer?”.
“Kuraa-ma”, Kiba apontou a loja Matsuda com seu polegar, “Eu dei uma pesquisada. Kuraa-ma é muito popular. E eles devem ter uns dez em estoque, no máximo vinte se tivermos sorte”.
“O—o quê?! Só isso?!”, Naruto tinha certeza de que havia pelo menos cem pessoas em frente à loja, significando que somente uma porcentagem baixíssima conseguiria comprar a Kuraa-ma.
“Eu não quero competir com sua filha. Mas sabe, sem ressentimentos se um de nós conseguirmos—”.
A grande porta da loja Matsuda começou a abrir, calando Kiba. Naruto pôde ver os dedos da vendedora na porta — levantando-a — e então, a loja foi aberta.
O mundo parecia balançar-se com a quantidade de pessoas correndo em direção ao interior da loja.
“Hein! Que droga! Estão entrando antes de mim!”, Kiba se apressou em chegar por dentro da multidão, deixando seus cachorros para trás para se infiltrar no tsunami humano.
Ruídos e gritos ecoaram por todo interior da pequena loja — Naruto ouviu até mesmo gritos de pessoas que pareciam estar sendo pisoteadas. Ele respirou fundo e olhou para Himawari ao seu lado.
“O que acha? Quer esperar aqui?”.
Himawari o encarou. Sua expressão ansiosa desde que soube do baixo estoque, e não parecia disposta a desistir. Ela balançou a cabeça em negativa para o pai.
“Oh, tudo bem!”, Naruto se endireitou quando pegou sua mãozinha, passou por Akamaru — que estava dormindo — e seguiu na mesma direção de Kiba.
Ele passou pelos vários brinquedos amontoados, derrubados pelo caos dos clientes. Incapaz de respirar de verdade no ambiente abafado, ele provavelmente perderia a mão de Himawari se baixasse a guarda por um instante.
“Perdão! Me dá licença?”, ele continuou adentrando na loja, tentando abrir caminho com seus ombros conforme passava pelas pessoas ao seu redor. Ele não fazia a mínima ideia de onde a Kuraa-ma estaria no meio daquela confusão, mas ele pressentia que estaria próximo do caixa.
Do nada, vários clientes notaram Naruto e começaram a gritar.
“Hokage-sama!”.
“Nanadaime-sama?!”.
Ele não tinha tempo para responder, no entanto, ele não podia simplesmente ignorá-los — ele acenou para todos com a mão ao invés de se curvar em saudação, “Passando… Ohh!… Oh! Você me acertou com seu cotovelo! Não se preocupe com isso… Oi? Você esperou a noite inteira aqui?! Que coincidência. Eu também fiquei acordado a noite inteira. Fiquei sim!”.
Por alguma razão, mais de uma pessoa fora até ele reclamar do caos que estava no local, e ele respondeu a cada reclamação evasivamente. Quando ele finalmente chegou até o caixa, ele viu um banner — Apenas no Feriado Dia em Família! Por tempo Ilimitado! — como ele esperava.
Achei!
Ele pegou o longo e esguio ovo, pagou, e logo se distanciou do caixa, voltando contra a multidão de pessoas. Quando Naruto cruzou a porta de entrada, voltando para o lado de fora, Akamaru abanou o rabo em felicidade para ele, como se o parabenizasse pelo trabalho bem feito.
Naruto respirou fundo e deixou a felicidade da vitória dominá-lo. “Isssssso!!”, ele levantou a sacola em suas mãos para cima. “Mesmo cheio de gente, eu consegui!!!”.
Ele trocou um olhar cúmplice com Himawari, que estava grudada em suas costas. Seus cabelos estavam desgrenhados tamanha a confusão no interior da loja, e seu rosto estava todo suado devido o vuco-vuco.
Kiba saiu da loja no momento em que Naruto tentava arrumar o cabelo de Himawari — seus ombros caídos em derrota. “Droga… venderam tudo…”, outros clientes saíam da loja também insatisfeitos.
“Não conseguiu um?”, Naruto levantou uma sobrancelha. “Mas você entrou lá antes de nós”.
“Eu não sabia onde encontrá-lo”, Kiba encolheu os ombros, “E com tanta gente tumultuada, meu nariz também não me ajudou. Ugh!”.
“Bem, você não pode usar seu nariz para encontrar brinquedos, creio”, Naruto revirou os olhos.
“Papai?”, Himawari puxou a manga de sua camiseta. Ela olhava para a sacola em suas mãos com ansiedade.
Com um sorriso enorme no rosto, ele entregou para ela a sacola. Ter estado no meio de um tumulto enorme depois de ficar noites sem dormir não ajudou em nada a fadiga muscular, seu corpo estava exausto. Porém, pensava que tudo valera a pena ao ver o rosto feliz de sua filha.
No entanto…
“Ah”, a expressão no rosto dela ao ver o ovo dentro da sacola não era o que ele esperava.
Kiba deu uma espiada na mão dela e então franziu o cenho. “Errr, vem cá, Naruto”.
“O quê?”, Naruto também espiou a mão de Himawari, e arregalou os olhos, “Uma cauda! Shukaa-ku?!”. Em vez de uma raposa fofa cheia de rabos felpudos, ali estava um tanuki rechonchudo com uma cauda redonda desenhada no ovo. “Não é Kuraa-ma?!”.
“Isso… é um brinquedo paralelo feito na Aldeia da Areia, sabia? Isso aí é a uma cauda, não a nove caudas”, Kiba explicou, mas Naruto não o estava escutando. Ele correu de volta para a loja e atravessou o corredor principal — boa parte dos clientes já tinham ido embora.
Sem acreditar, ele encarou o caixa da loja. O banner escrito — Apenas no Feriado Dia em Família! Por tempo Ilimitado! — estava lá, mas abaixo dele, ao lado da cesta que dizia — Grande lançamento! A Nove Caudas! Kuraa-ma! — estava outra cesta que continha uma propaganda — Que tal levar um tanuki, também? Eram duas cestas. A cesta com os ovos do Shukaa-ku ainda estava cheia, claramente não era o brinquedo popular do dia.
“Uh… mm”, Naruto chamou a atenção do atendente do caixa a sua frente, seus olhos focados na cesta fazia que deveria ter os ovos da Kuraa-ma. “Então…não tem mais a Kuraa-ma?”.
O atendente balançou a cabeça em negativa, a expressão chateada e desculposa.
Naruto voltou para fora com passos lentos e desanimados — notando os olhos de Himawari cheio de lágrimas. Seus pequenos ombros se chacoalharam um pouco, e os dois cachorros em volta dela pareciam aflitos.
“Olha aqui, me escuta. Logo que essa febre passar, vai ser facinho conseguir esse brinquedo!”, Kiba tentou desesperadamente confortar a pequena. “Seu aniversário vai demorar, não vai? Até lá, você vai conseguir uma dessas raposas fofas tão rápido que o dia de hoje vai ser esquecido. É isso que vai acontecer, acredite!”.
“Kiba”.
“E seu pai é o Hokage, não é? Que pena que alguém como eu não possa ser o Hokage. Pois se eu fosse um, bastaria conversar com alguém, e aí você poderia ter qualquer—”.
“Kiba”, Naruto o interrompeu, “Chega, `ttebayo”.
“Entendo. Mas como…”, Kiba olhou para uma chorosa Himawari e então voltou os olhos para Naruto. Seus olhos lhe faziam a seguinte pergunta: O que você vai fazer agora?
“Himawari”, Naruto murmurou ao colocar a mão em seu pequeno ombros, “Me desculpe. Eu deveria ter verificado quando comprei. Eu estava em pânico”.
As pequenas mãozinhas que coçavam os olhos cheios de lágrimas baixaram-se, mostrando suas pálpebras inchadas e vermelhas de tanto chorar. Naruto não desviou o olhar, ele a encarou profundamente nos olhos.
“Você vai ter uma”.
“O quê?”, Himawari perguntou.
“Uma Kuraa-ma”, ele disse. “E eu não estou lhe dizendo um dia, de jeito nenhum, estou dizendo que hoje você terá uma, `ttebayo”.
Ela ficou parada por um momento, mas finalmente acenou em concordância e coçou os olhos antes de dar um sorriso tímido. Naruto ficou feliz com aquela reação — pelo menos ela já não chorava mais.
“O que você vai fazer? Você vai mesmo usar seus privilégios como Hokage?”.
Naruto riu com a pergunta de Kiba. “Eu não tenho nenhum privilégio conveniente dessa maneira. Eles começaram as vendas para o feriado, isso significa que eles têm produto somente para o dia de hoje. Eu irei usar meu jutsu Clone das Sombras para ir a todas as lojas de brinquedos”.
“Clones das Sombras, hein?”, Kiba bufou. “Você parece que acabou de chegar exausto de uma recente missão. Você ainda tem chakra pra fazer tantos clones?”.
“Só estou com sono. Jutsu Multiclone das Sombras!”, uma grande fumaça branca surgiu nos pés de Naruto no momento que ele fez o selo de mão… e dois clones apareceram — algo que ele não costumava fazer. Ele gelou, com os dedos ainda em posição, e sentiu um calafrio subir a espinha.
“Só tem dois aí. Você disse `multi`. Que piada”, Kiba deu um peteleco nos dois clones, e ambos desapareceram seguido de um som ruído.
“Quê!?”, Naruto quase gritou.
“Idiota. Clones das Sombras não irão resolver nada. Hoje é praticamente um festival. Tudo o que vai acontecer é eles trombarem com uma multidão e desaparecerem aos poucos”, Kiba murmurou. “Que tal aceitar minha ajuda? Meu nariz não funciona dentro de lojas, mas eu posso focar em achar uma Kuraa-ma. Eu só preciso descobrir o cheiro da tinta usada no letreiro que estampa o ovo, e ai é fácil”.
Quando ele viu que Naruto estava suspeitando de sua proposta repentina, Kiba logo disse, “Não me entenda mal. Eu não me importo se o estoque é baixo, mas eu não vou conseguir dormir depois de ver essa menina chorar como chorou. Eu sei que eu disse `sem ressentimentos`, mas… cara… quando a vi chorar, foi tão…”, ele coçou a bochecha de maneira incomodada. “Escute, eu vou procurar na parte nova da cidade. Você foca na parte antiga. Se você achar a Kuraa-ma primeiro, use seu Modo Sábio para — espera, em suas condições você provavelmente vai desmaiar. Bom, eu te encontro quando sentir que for necessário. Não vá para lugares com cheiros exóticos”.
“Entendido”, Naruto topou.
“Certo. Vamos, galera”, Kiba foi em direção à parte nova da cidade — acima do monumento dos Hokages — seguido de Akamaru e Akemaru.
Naruto ficou olhando-o até desaparecer pela multidão, e então, baixou a cabeça para olhar para Himawari, “Beleza, vamos indo?”.
“Sim!”, ela gritou alegre ao subir novamente em suas costas.
Era como Kiba havia lhe dito anteriormente: as crianças crescem tão rápido que nem os pais notam. Ele tinha certeza de que ela era menor da última vez que ele a carregou nas costas — algo que não se nota quando você vê seu filho todos os dias. Mas as palavras de Kiba eram uma indireta? Ele mal via Himawari nos últimos tempos.
Não.
Ele precisava fazer o que fosse preciso para sua garotinha, e ficar preso ao passado não o ajudaria. Com aquilo em mente, Naruto começou a correr.
_______
“Você tem a nove caudas? Kuraa-ma?”, Naruto gritou enquanto entrava no primeiro estabelecimento que viu, daqueles abertos 24h.
O atendente quase engasgou quando percebeu que se tratava do Sétimo Hokage.
“Papai, olha! Olha quantos tem!”.
“Sério?!”, ele focou os olhos na estante logo abaixo do caixa do estabelecimento, e realmente, estava cheio de ovos que pareciam ser o que procuravam, porém, “São todos do Shukaa-ku, né?’.
“Sim”, o atendente confirmou.
Naruto olhou atentamente os ovos, e todos pareciam ser um tanuki. Ele sentia-se um pouco mal pelo brinquedinho, que parecia não estar vendendo nadinha. E por que diabos tinham tantos brinquedos da Areia sendo vendidos na Folha? Ele estava começando a suspeitar de que o brinquedo não tinha sido vendido em sua aldeia natal e agora estava sendo repassado a outra aldeia para ver se vendia o estoque.
“Vai ser engraçado se eu comprar vários e mandar para o Gaara”, ele murmurou divertido.
“Gaara?”, Himawari perguntou.
“Um amigo meu da Aldeia da Areia. Quando éramos crianças, ele seeeeeeempre estava do lado do Shukaku — quero dizer, Shukaa-ku. E então ele e o Shukaa-ku se separaram um do outro, antigamente eles eram uma coisa só”.
“Ele ficou solitário depois que o tanuki se foi?”, Himawari estava curiosa. “Ele deve ter o amado muito”.
“Err… na verdade não. Ok, próxima loja!”, e então Naruto saíra para a próxima parada com a mesma velocidade que adentrara no estabelecimento.
_______
“Kuraa-ma? O brinquedo que é a febre de hoje? Não, eu não tenho. Na verdade, deixa eu te perguntar, você acha mesmo que eu teria isso aqui? Não sei se percebeu, mas aqui é uma floricultura”.
Naruto havia ido até a Floricultura Yamanaka no meio do caminho, pois ele não teria nada a perder tentanto. A loja era administrada por Ino Yamanaka, uma de suas colegas da Academia Ninja. Ele estava rodeado de uma grande variedade de flores, mas nenhum brinquedo.
“É, acho que não”, Naruto suspirou. “A propósito, cadê o Sai?”.
“Ele saiu com o Inojin. Posso deixar um recado para ele se quiser”.
“Não precisa, não é nada urgente. Desculpe te atrapalhar”. Naruto acenou com a mão.
“Tudo bem. Oh, Naruto, espere!”. Ino o parou, e então retirou uma flor que estava pendurada em uma de suas paredes. “Aqui, para você, Himawari”, ela deu a Himawari um girassol — uma himawari — toda aberta e linda.
“Uau! Obrigada, tia!”, ela respondeu sorridente. Apesar de ter sido tímida com Kiba, receber um girassol — que continha seu nome — de presente havia abaixado um pouco a sua guarda.
“Ohhh, que linda! Vou te dar outra como bônus!”, e outro girassol foi colocado nas mãos de Himawari. A pequena estava radiante com os presentes — balançando-os triunfante em cada mão.
“Eu sei que você acabou de recebê-los, mas você não vai conseguir segurar no papai com essas flores nas mãos. Que tal passarmos em casa e deixarmos elas lá?”, Naruto sugeriu.
“Quêeee? Não! Eu as levo! Se eu colocá-las aqui, elas não vão me atrapalhar”, quando ela disse `aqui,` ela queria dizer o colarinho da camiseta do pai.
—Skrth, skth
Ele podia sentir as pontas dos girassóis em suas costas.
“Ah, é?”, ele virou o corpo para a parede de vidro próximo a eles e viu seu reflexo, notando os girassóis acima de sua cabeça, parecendo antenas. Parecia algo fashion. “Acha que combinou comigo?”, ele perguntou a Himawari.
Ela riu divertida. “Ficou perfeito!”.
“He he he he!”, Naruto riu, um pouco envergonhado.
_______
“As crianças de hoje em dia… só querem saber de eletrônicos. São obcecadas por eletrônicos. Não têm tempo para os jogos antigos”, a senhora resmungou, com o rosto magoado. Ela tem administrado a antiga loja de doces há bastante tempo; na época que Naruto era criança ela já estava toda enrugada, e aquilo não havia mudado em nada. Ela ainda estava cheia de rugas.
Fascinada por tantos doces, Himawari tombou a cabeça para o lado, os lábios cheios de doce de kinako. “O que é um eletrônico?”.
“Boruto sempre brinca com um no jantar”, Naruto lhe respondeu. “Um eletrônico, é disso que ela está falando, `ttebayo”.
“Não é um eletrônico”, a senhora retrucou. “Essa é a estrela da esperança para a próxima geração de brinquedos, o ‘pergaminho do relâmpago’ ”.
“É diferente? Então, o que é um eletrônico?”.
“Um eletrônico é um eletrônico. Você tem esse seu título para jogar aos ares? Você nem consegue distinguir um eletrônico de um ‘pergaminho do relâmpago’. Que coisa mais triste”, a velha resmungou enquanto puxava um pacote de uma prateleira. “Agora, acredito que vocês estão atrás de uma Kuraa-ma, sei lá como se chama”.
“Você tem alguma?!”. O coração de Naruto quase saltou pela boca.
“Não. Infelizmente, não há nenhuma. Porém… tenho algo ainda melhor”, a velha assumiu um ar de importância e, em seguida, puxou o conteúdo do pacote, “Origami”.
Naruto ficou sem fala.
“Por que me olha assim? Isso aqui é muuuuuuuito mais divertido do que qualquer eletrônico por aí”.
“Himawari”, ele virou um pouco o rosto para a filha em suas costas, “Vamos ali limpar sua boca”.
“Uhum”, ela concordou.
“Ahh!”, a mulher grunhiu. “Esqueça! Para com isso! Não use isso para limpar a boca de pirralhos! Isso não é um guardanapo. Agora ouça, comece a dobrar! Apresse-se e dobre!”.
“Na verdade, estamos com pressa… bom, acho que isso não fará mal”, ele dobrou um papel lhe dado, seguindo as introduções da senhora. Talvez por fazer tempo que ele não fazia aquilo, dobrar um origami estava sendo até que divertido — e Himawari parecia feliz com a shuriken de papel cinza que ele havia feito, então ele amarrou uma corda no meio dela, e a pendurou em seu pescoço.
Com toda aquela confusão, ele não tinha mais certeza do que exatamente era um eletrônico.
_______
Naruto botara os olhos em uma loja de ferramentas chamada “Loja de Ferramentas da Tenten”. A dona, Tenten, estava deitada em cima do balcão, com os braços esticados — completamente preguiçosa.
“Não consigo vender naaaaaada! Mesmo trazendo para o estoque kunais especiais para pais e filhos, não consegui vender absolutamente nenhumaaaaaa!”.
“O que exatamente é uma kunai especial para pais e filhos?”, Naruto perguntou.
“Hm!”, Tenten gesticulou uma das mãos, apontando na direção do mostruário — ainda deitada no balcão.
Ali no mostruário, havia uma kunai única, com uma ponta diferenciada em seus dois lados. Uma era esguia, e a outra era arredondada como a ponta de uma caneta e, embora curta, sua ponta era afiadíssima.
“O que exatamente isso tem a ver com família?”, Naruto perguntou completamente confuso.
“A ponta longa é o pai, e a ponta curta o filho”, ela explicou. “Viu? Parece um pai e um filho juntos, não parece?”.
“Um pouco exótico, não acha?”, Naruto comentou. “Bom, você tem uma Kuraa-ma com você?”.
Tenten parou no lugar abruptamente. “Essa é a quarta vez que me fazem essa pergunta hoje. Então é isso que está acontecendo? Está me dizendo que essa loja de ferramenta já é arcaica?! Que eu deveria fechar essa loja e abrir uma loja de brinquedos? Meu Kami, você realmente acha isso! Hokage-sama! É por isso que você me perguntou isso, não é? Essa loja é um fracasso, por isso eu devo começar a vender brinquedos? É o que está tentando me dizer?!”.
“Eu não penso isso e nem mesmo disse isso, `ttebayo”, Naruto negou as acusações nervosamente.
“É verdade, esse lugar não é popular. A garotada da vizinhança só usa esse lugar para suas brincadeiras bobas. Eles dizem que tenho uma enorme cabaça aqui que fala com uma voz humana. Além do mais, estou sobrecarregada de ferro, então as pessoas vêm reclamar que o campo magnético daqui é instável. Se eu pudesse vender por atacado para a polícia ou para a academia. teria vendido tudo isso há muito tempo. Mas nãoooooooo, todos eles possuem contratos com outros lugares…”.
“Papai, por que a senhorita está chorando?”, Himawari perguntou.
“Hmmm”, Naruto ponderou, “Eu acho que porquê estamos em paz”.
“Mas isso é bom, não é?”.
“Sem dúvida”, Naruto então resolveu comprar qualquer coisa que chamasse sua atenção. Ele acabou botando os olhos em kunais em miniatura que estavam penduradas em uma das cordinhas — mas grandes o suficiente para ser do tamanho de seus dedos.
No momento que ele foi pagar por elas, Tenten já havia se recomposto, e um sorriso radiante surgiu em seus lábios. “Que tal aproveitar para levar uma desses também?”, ela apontou novamente para a kunai especial para pais e filhos. Naruto acabou rindo de seu poder de persuasão e seu espírito mercenário tão rápido.
_______
Junto com Himawari, ele ia de loja em loja na parte antiga da cidade, mas não conseguiam achar nenhum ovo de Kuraa-ma.
O sol já estava se pondo, fazendo Naruto ranger os dentes. Ele tinha a verdadeira Kurama dentro de si e mesmo assim… Sua única esperança era Kiba na parte nova da cidade.
“Eeeeei! Narutoooo!”.
Ele ouviu a voz de Kiba vindo acima dele, e ao levantar a cabeça, notou-o no telhado de um restaurante ao seu lado.
“Eu encontrei!”, Kiba gritou, “Uma Kuraa-ma de verdade!”.
“Sério!?”, Naruto também gritou.
Kiba aterrissou no chão rapidamente e fez um sinal de `joinha` com uma das mãos para Himawari, “Em todo lugar que fui estava esgotado, mas havia ainda um numa loja dentro da estação de trem. É uma loja de souvenir que fica na plataforma dos trens internacionais. Diferente da Folha, as outras aldeias não estão interessadas na Kuraa-ma”.
“Você tem certeza?”, Naruto perguntou, hesitante. “Você não iria dar para sua namorada?”.
“Ela não ama raposas tanto assim. Ela, na verdade, ama gatos. E de qualquer forma, eu nem disse a ela que compraria uma, então, tranquilo”. Kiba deu de ombros.
“He-he!”, Naruto sorriu, “Olhe só, Himawari!”.
“Eba! Obrigada… hmm… Tio dos cachorros”, Himawari sorriu, tímida.
“He! Não há de quê”. Kiba lhe deu um sorriso enorme, nem se importando em como ela o chamou, “Eu deixei com o Akamaru, ele deve chegar logo—oh, falando nele!”, Akamaru e Akemaru surgiram entre as pessoas da rua.
“Aqui está! O tão esperado Hambúrguer Eletrizante!”, Kiba colocou a mão dentro da sacola trazida, “Normalmente, eu não dou fast-food pra eles, mas esse hambúrguer não tem conservantes. E meus cachorros amam esse hambur—Ei, espera um momento! Uma sacola do Hambúrguer Eletrizante!? O que aconteceu com a Kuraa-ma?! Droga! Alguém trocou isso!”.
“Ei, Kiba!”, Naruto murmurou preocupado, “Olhe ali…”.
Um homem usando capuz estava correndo do local, bem da onde os cachorros tinham vindo. Em suas mãos havia uma sacola com um trem estampado.
“Ah, nem vem que não tem!”, Kiba gritou. “Isso é brincadeira né? Alguém trocou de sacola com vocês?! Akemaru?! Droga! É porquê eu não os alimentei desde manhã—”.
“Kiba”, Naruto tirou Himawari das costas e a entregou para Kiba, junto de todas as coisas que carregava, “Cuide da Himawari”.
“Cuidar dela?!”, Kiba ficou boquiaberto, “Ei!”.
Naruto correu em direção ao homem que se infiltrou entre as pessoas. Percebendo que estava sendo perseguido, o homem logo apertou o passo, se esquivando rapidamente pela multidão. Isso, adicionado ao fato de que ele havia enganado Akemaru (não importava o quão faminto o cão estivesse), deixou algo muito claro para Naruto: o cara era um ninja.
“Ei!!!”, Naruto chamou sua atenção, “Parado aí!!”.
Não havia um ninja em Konoha que Naruto não conhecesse, e aquele ninja sem dúvida sabia disso. Ele puxou ainda mais seu capuz para baixo, a fim de esconder sua identidade, ignorando completamente as pessoas com quem ele trombava.
“Ugh!”. Naruto simplesmente não conseguia ser tão rude com o povo de Konoha, e ele se sentiu na obrigação de parar e ajudar os cidadãos a se levantarem enquanto o perseguia. O homem gradualmente se afastava dele.
Que dia…
Ele não conseguira nada para Himawari. No fim, ele não conseguira fazer nada além de lhe dar esperanças e decepcioná-la. Kiba fora quem conseguira a Kuraa-ma que o homem a sua frente tinha roubado. Naruto, no mínimo, tinha que recuperá-la.
O problema era que ele não somente não dormia há dias, mas também havia gastado energia correndo por Konoha — sua estamina e chakra estavam no limite. Mesmo que ele usasse um jutsu de teletransporte, ele não iria para lugar algum, da mesma maneira que seus clones das sombras.
Eu não queria causar comoção bem no meio da aldeia, mas o momento é crítico!
“Kurama!”, Naruto chamou a atenção da raposa dentro de si, “Desculpe, mas você pode me dar uma força? Eiiii, Kurama?!”.
“Não quero”, uma voz petulante surgiu em sua mente.
“Por—por que não?!”.
“A culpa é sua por me chamar de bebê. E Shukaku? Entre tanta coisa, você foi me confundir com aquele tanuki!? E agora você ainda fala comigo nesse tom?!”.
“Não—não, eu não estou tentando—quero dizer, eu estou com problemas sérios aqui! Himawari-”.
“Mais uma razão para eu não te ajudar”.
“Como?”.
“O que estou dizendo é que você não pode depender de mim. Resolva sozinho. Se você não fizer o impossível por sua filha, quem fará? Idiota!”.
Naruto não tinha como responder àquilo. “He he he!”, ele voltou a realidade a sua frente, “Acho que ele tem razão”.
Ele já sabia que Kurama tinha razão. Ele precisava recuperar aquela Kuraa-ma com suas próprias mãos. Era só uma batalha de estamina e poder de luta. Ele corria intensamente até o homem enquanto se perguntava: O quanto já corri até agora?
O homem diminui o ritmo quando chegou em um beco vazio. Ele parecia cansado e sem forças, até mesmo parecia que pensava em desistir, e ao mesmo tempo, parecia que não podia desistir.
“Te peguei!!”, Naruto gritou quando alcançou o homem. Ele rapidamente o jogou no chão e retirou seu capuz. Como ele esperava, o homem era um ninja de categoria Genin da Folha, um dos que ele havia ordenado que cuidasse da fronteira naquele dia.
Esparramado no chão, o homem comprimiu os lábios e desviou os olhos de Naruto. O homem nunca antes havia causado problemas. Então, por que ele estava manchando seu nome por um roubo tão besta?
“Papai?”.
Naruto ouviu uma voz infantil atrás de si, e um garotinho apareceu na entrada do beco.
“Por—por que você está aqui?! Está tudo bem! Está tudo bem, fique paradinho aí!”, a voz do homem estava trêmula. Naruto rapidamente se tocou da ligação de ambos.
Não parecia haver motivos para segurá-lo no chão, então Naruto soltou o homem. “O que está acontecendo?”.
A resposta não veio do homem a sua frente, mas de um atrás dele.
“Parece que ele queria uma Kuraa-ma para o filho, e ele não se importava em como conseguiria isso. Assim como você.”. Era Kiba. Quando ele chegou aqui? Ao lado dele, Himawari apareceu em cima de Akamaru.
Naruto voltou os olhos para o homem abaixo dele, seu olhar pedindo-lhe uma explicação.
“Minhas sinceras desculpas!”. O homem ajoelhou-se rapidamente, com a testa no chão. “Meu filho queria tanto um que eu nem pensei nas consequências dos meus atos. Eu procurei em todos os lugares, e bem quando o sol estava se pondo, eu ouvi Kiba-san. E agi sem pensar…”.
Chorando, o homem explicou que ele sempre estava ausente trabalhando pelas fronteiras do país. E então, finalmente ele tinha ganhado um dia de folga. E quando ele vira o filho pela primeira vez depois de tanto tempo, o menino havia timidamente lhe pedido uma Kuraa-ma.
Naruto ouviu a história do homem silenciosamente. Ele só queria deixar o filho feliz e Naruto entendia aquilo completamente. Mas ele havia cruzado uma linha que jamais deveria ter sido cruzada. Ele deveria ser punido pelo crime feito, bem na frente do filho mesmo. Ou menos pior, ele poderia retirar o menino do local antes daquilo.
Enquanto ele pensava sobre as possibilidades, Himawari desceu de Akamaru, pegou a sacola que continha a Kuraa-ma, e entregou para o homem caído no chão. “Aqui. Isso é seu, não é, senhor? Você deixou cair”.
“O quê?”. O homem pareceu confuso.
“Himawari?”, Naruto também estava confuso.
Ela olhou para ele com um sorriso genuíno, igualzinho ao de sua mãe, Hinata — como se ela conseguisse ver através do coração do homem. “Esse homem só estava tentando pegar uma Kuraa-ma para o filho dele, não é, papai?”.
Naruto entendeu imediatamente o que sua filha estava tentando fazer. “Oh, sim”, ele entendia, mas…“Você tem certeza? Eu sei que você queria muito uma também, Himawari”.
“Tudo bem, eu tenho esse”, ela pegou o Shukaa-ku em mãos, o que Naruto havia comprado por engano. “É um presente especial vindo de você. E eu amei”. E então, ela tocou gentilmente a shuriken de origami pendurada em seu pescoço. “Você sempre está tão ocupado, papai. Você nunca brinca comigo. Mas hoje, passamos o dia todo indo em tantos lugares diferentes. Foi tão divertido. Eu estou cheia de presentes, não preciso de mais um”.
“Hima…”. O rosto de Naruto se suavizou quando viu que o sorriso todo adulto dela se tornou um sorriso mais infantil.
“Bem, se a garotinha não o quer, eu vou—”, Kiba tentou se aproximar, mas Akemaru e Akamaru latiram feio para ele, fazendo-o parar. “Tá, tá!”, mesmo com a bronca, ele sorriu em resposta.
Naruto ficou com o semblante sério novamente, agachou-se e se aproximou do rosto do homem, — que ainda estava de joelhos. “O lance da Kuraa-ma está resolvido”, ele declarou, com a voz baixa, “Mas a forma como você empurrou e agiu com as pessoas da vila, isso eu não posso deixar de lado”.
“Eu sei”, ele balançava a cabeça em aceitação.
“A partir de hoje, você não mais irá cuidar das fronteiras do país”, Naruto disse.
O homem fechou os olhos com força, um ato desesperado.
O Hokage colocou uma mão em seus ombros, “A partir de amanhã, você será responsável pela guarda do portão principal. Irei relatar isso para o Shikamaru. É uma das coisas mais importantes na Folha, depois do monumento dos Hokages, `ttebayo”.
“Isso é… um rebaixamento de posição, então? Oh! Oh! Por favor, me perdoe! Eu irei cumprir com o meu dever com toda minha força!”.
Ouvindo as palavras humildes do homem a sua frente, Kiba começou a rir, “Idiota. Isso quer dizer que você não precisa mais ficar longe da aldeia. Cuide bem do seu filho”.
“Oh!”, lágrimas começaram a surgir dos olhos do homem. “Muito, muito obrigado!”.
“Bem”, Naruto estalou suas juntas, duras por conta do longo dia, ao se levantar, “Beleza. Vamos para casa?”.
_______
“Borutooooooo-niichan! Olha o jantaaaaaar! Papai trouxe hambúrgueres!!! Já é quase de noite!!! Até que horas você vai doooooormir?!”, Himawari gritou pelo irmão mais velho do pé das escadas.
A voz sonolenta de Boruto surgiu das escadas, e então, eles ouviram a porta da frente se abrir.
“Ahh! Mamãe!!! Você está em casa!!!… Olha, papai veio para casa… O quê? Minhas orelhas? Hee-hee. Bonitas não são? Papai comprou para mim! E isso também. Isso aqui também, e isso, e isso…”.
Hinata também havia acabado de chegar em casa, e pela primeira vez após um longo tempo, parecia que todos iriam jantar juntos.
Em família.
Enquanto todos estavam sentados no sofá da sala de estar, Naruto não parava de olhar para a alegria de Himawari em contar todo o seu dia. Normalmente, ele dormia em seus dias de folga, mas naquele dia, ele simplesmente não parou. Ele não fora capaz de descansar nem mesmo por um segundo, mas se alguém lhe perguntasse se ele estava infeliz com aquilo, ele sorriria e diria ‘não’. Aquilo era a melhor forma de curtir o feriado do Dia em Família.
_______
“Então, está em casa, hein?”.
Os olhos de Naruto se abriram num ímpeto. Aparentemente, ele havia dormido em algum momento e não percebeu que Boruto estava sentado ao seu lado. Seu rosto já dizia tudo, e sabendo o motivo de seu filho estar o olhando daquela maneira, ele logo respondeu ao garoto, “Me perdoe por ontem”.
“Tudo bem. Tanto faz”, Boruto resmungou, irritado, seus braços cruzados atrás da cabeça.
Então, ele não estava bravo por Naruto não ter estado em casa no dia anterior. Aquilo significava que ele estava apenas de mau humor por ter passado o dia todo em casa dormindo? Ou talvez… Naruto virou a cabeça para olhar a porta da frente. Himawari ainda estava mostrando para Hinata todos os presentes que ela havia ganhado.
“Você também queria passear conosco? Naruto perguntou.
“O—o quê?!”, Boruto trouxe a cabeça para frente em choque. “Por que eu iria querer isso?! Eu só estava—eu só queria dizer que os hambúrgueres que você trouxe são pequenos demais…”.
“Mas ainda têm hambúrgueres na sacola”, Naruto apontou com a cabeça para a sacola do Hambúrguer Eletrizante em cima da mesa de jantar.
Boruto olhou para a sacola e então bufou. Ele abriu a boca em um `O` e então a fechou, parecia pensar em alguma outra desculpa.
Foi quando Naruto notou que havia um folheto em uma de suas mãos, mas ele não conseguia ler seu conteúdo, já que as mãos do garoto estavam atrás da cabeça. O folheto estava todo amassado, igualzinho ao de Himawari naquela manhã, mas Naruto finalmente havia conseguido ler o nome da loja: Loja de Ferramentas da Tenten.
Sorrindo triunfante — mas não deixando o garoto notar que ele finalmente havia percebido — Naruto pegou algo em seu bolso, “Você provavelmente vá querer outro jogo de videogame, mas… ‘pergaminho do relâmpago’, era o nome? Não entendo de jogos”, Naruto retirou do bolso uma longa caixinha e entregou-a para Boruto.
“Quê?”, o menino ergueu uma sobrancelha, “O que é isso?”.
“É um presente, `ttebayo. Eu sei que hambúrgueres não são o suficiente”.
“Hm?”, tombando a cabeça para o lado, Boruto abriu a caixinha. Uma kunai com pontas diferentes em cada lado estava ali dentro, novinha em folha. “Isso…”, um sorriso enorme começou a estampar seu rosto, mas ele rapidamente segurou quando percebeu sua reação. Ele pegou a kunai e começou a rodopiá-la. Quando Boruto levantou-se do sofá e se retirava da sala, Naruto pôde ouvir um fraco “Obrigado”.
“Por nada”, sua voz também estava fraca. Ele sorriu orgulhosamente para seu filho complicado enquanto se encostava novamente no sofá. Ainda havia mais alguém para ele se resolver.
“E então? Eeeei! Qual é, para com essa birra aí! Eu só peguei o Shukaku porque tudo estava uma tremenda confusão, `ttebayo. Você vai ficar sem falar comigo por quanto tempo? Eu prefiro muito mais raposas do que tanukis, sabe. Olha só, eu até mesmo coloquei tofu frito de kitsune no meu ramen, poxa! É um ramen de raposa! Então… você está me ouvindo? Ei! Eu disse, ei Kurama! Kuraa-maaaaa?”.
Os Interlúdios de Shino
Parte 1 – Shino-sensei x Almoço!
Naruto havia decidido que eles teriam um feriado chamado Dia em Família, então, a atmosfera estava bem festiva por toda a Aldeia da Folha. Risos podiam ser ouvidos por todas as direções, melodias orquestrais podiam ser curtidas de carrinhos de comida, acompanhada pela melodia cadenciada das flautas e o ritmo poderoso de tambores. Uma salva de palmas abafou todos esses sons anteriores, talvez em agradecimento a um artista de rua fazendo um truque particularmente fabuloso para seu público. Todos os cidadãos estavam se divertindo a beça. Sim. Todo mundo mesmo — e um certo homem não era nenhuma exceção.
Dia em Família, hein?
Por causa dos óculos metálicos que Shino Aburame usava, era difícil decifrar suas expressões — porém, um sorriso fraco podia ser notado em seu rosto.
Eu não tinha certeza se iria curtir o feriado por conta da tendência dos solteiros geralmente serem ignorados. Mas isso é legal. Uma pessoa solteira como eu pode curtir também.
Havia uma vasta variedade de comida onde Shino se encontrava. Em seu lado direito, tinha lula frita, espetos de salsicha e banana com chocolate; do lado esquerdo tinha uma barraquinha de pipoca. Ele não estava com fome, mas o clima festivo e alegre estava o conquistando aos poucos.
“Eu quero ver um filme na próxima! Filmeeee!”.
Ouvindo uma voz familiar, Shino se virou e viu uma estudante da Academia Ninja com seus pais. Ela não tinha visto-o, entretanto, enquanto caminhava em direção ao cinema, ela parecia estar se divertindo muito.
Ele sentiu uma pontada de tristeza com aquela visão, mas logo o sentimento desapareceu. Era verdade que ele era solteiro, mas mesmo assim, ele possuía uma família para amar. E ele não estava falando sobre nenhuma bobagem sentimental como sobre todos os alunos da Academia Ninja eram sua família. Não, sua família estava em seu coração. Em seu peito, para ser mais preciso.
Quase como se em resposta ao seus pensamentos, os insetos em seu peito começaram a fazer barulho. Os insetos davam vida a Shino ao mesmo tempo em que faziam seu ninho dentro de seu corpo: estavam com ele vinte e quatro horas por dia, na doença e na saúde, na alegria e na tristeza; companheiros ligados por um vínculo maior que o dos chamados “família”.
“Hm, já é tarde?”, ele murmurou para si mesmo. Toda aquela perambulação e comida entorpeceram sua noção de tempo e ele não percebeu que já era hora do almoço.
Ele procurou um lixo para jogar os espetos já vazios em sua mão direita, mas incapaz de encontrar, ele colocou todos dentro do seu balde de pipoca, e então remexeu seu bolso para puxar um brinquedo adorável de pelúcia — a raposa de nove caudas felpudas.
“Desculpe a demora”, ele colocou a pipoca em seus pés e pegou um comprimido de comida com a mão esquerda.
A raposa de brinquedo engoliu o comprimido como se fosse comida de verdade.
“Yum! Yum!”
“Heh heh. É bom?”
“Me dê mais! Mais!”
“Não precisa se apressar. Ninguém vai tirar isso de você. Você é minha família e eu te amo”.
Ele fazia questão de aprender sobre coisas que seus alunos estavam interessados sempre que possível, razão pela qual ele comprou a Kuraa-ma, porém, ele acabou ficando profundamente impressionado com aquilo. Ele amou aquilo a beira do ridículo, tanto que ele não hesitou em chamá-la de “sua família”.
“Minha Kuraa-ma é muito mais inteligente e fofa do que a que vive dentro do Naruto. Heh heh… heh heh heh”, Shino sorriu com ternura, a imagem de um pai dedicado — enquanto os insetos em seu peito clamava cada vez mais alto por atenção.
Dois minutos depois, eles ficaram impacientes de esperar por um anfitrião que não estava fornecendo seu chakra na hora do almoço e começaram a devorá-lo avidamente sem permissão, fazendo assim, com que Shino desmaiasse.