Itachi Shinden: Livro da Noite Sombria - Seção 1
“Então, é assim que vai ser, hein?”, murmurou Kakashi.
Ao lado dele, Itachi prendia a sua respiração. Àquele momento, o seu capitão de time, com a metade inferior do rosto coberta por uma máscara preta, já tinha ido. Itachi saltou do penhasco atrás dele.
Os corpos mortos de seus companheiros mortos jaziam no vale a frente. Os ninjas do País da Neve os tinham matado.
Os dois países estavam prestes a formar uma aliança quando isso aconteceu. A aliança estava para ser oficializada dali dez dias, e eles estavam no meio de uma missão de troca de cartas estabelecendo os termos finais, quando os ninjas do País da Neve de repente mostraram os seus dentes.
O inimigo não estivera interessado em uma aliança desde o início.
Quatro ninjas de Konoha contra dez do País da Neve. Eles estavam em menor número. Em um piscar de olhos, os ninjas de Konoha encarregados do dever de receber as cartas foram mortos.
Se testemunhassem uma ruptura nas negociações, deveriam exterminar o inimigo: essa era a missão que tinha sido dada a Itachi e seu time. Em outras palavras, eles não deviam se mover até que a situação estivesse clara. Assim, a sua resposta inicial fora tardia, levando à aniquilação de seus companheiros.
No momento em que dez ninjas do País da Neve apareceram – em uma força suspeitamente grande – pressentira-se muito um colapso no processo. Se a Anbu tivesse avançado naquele momento, seus companheiros poderiam não ter morrido. Entretanto, mesmo que Itachi estivesse liderando a equipe, ele não poderia ter se movido até que todos os quatro fossem exterminados.
À sua dianteira, Kakashi pousou entre os inimigos, sua mão direita já perfurando um dos ninjas. Uma corrente de raios azuis envolvia o seu braço.
Chidori… a melhor técnica de Kakashi.
Quando o seu capitão de time estava puxando o braço de volta, Itachi já havia pousado bem no meio dos inimigos.
Havia outros dois Anbu com eles. Um era Sugaru. E o outro era um ninja chamado Tenzō. Ele era um pouco mais jovem que Kakashi, mas sua carreira na Anbu já era bastante longa.
“A Anbu de Konoha!”, um ninja inimigo gritou.
No instante seguinte, um galho espesso de árvore enrolou-se ao redor da garganta do homem e apertou-se, como uma cobra. Incapaz de empurrar de si a incrível força desta, o homem expirou, a língua comprida pendurada para fora da boca.
Era o jutsu de Tenzō. Ele era capaz de usar o Estilo Madeira, técnica que somente o Shodaime Hokage, Hashirama, havia sido capaz de usar.
“Konoha nunca teve qualquer intenção de realizar uma aliança conosco, hein?”, um outro inimigo disse a Kakashi.
“Vocês vieram até nós primeiro”. Kakashi não esperou que o outro homem argumentasse o fato; um Chidori cravou-se no estômago do outro ninja.
Itachi ouviu um grito detrás dele. Olhando por cima do ombro, viu um inimigo movendo-se em sua direção, com uma longa espada erguida sobre a cabeça.
Itachi deu meia-volta. A espada fechou-se no topo de sua cabeça. Ele rapidamente levantou o braço e agarrou com o punho, o pulso da mão do inimigo.
“Argh!”
“Desista”, aconselhou Itachi, ainda agarrando o pulso do homem.
Incapaz de descer a espada em Itachi, o inimigo o olhou, o suor frio brotando em sua testa.
O Sharingan.
Seu inimigo estremeceu violentamente uma vez, e então relaxou completamente. Como uma marionete com os fios cortados, o homem havia começado a inclinar-se e a cair em direção ao chão, quando sua cabeça rolou do local ante os olhos de Itachi.
Uma lâmina ninja cintilou na retaguarda do inimigo. Sugaru.
“A MISSÃO ATRIBUÍDA PELO HOKAGE-SAMA É A DE EXTERMINAÇÃO DO INIMIGO”, murmurou Sugaru em uma voz alta o suficiente somente para Itachi ouvir. Ele havia visto através do plano secreto de Itachi de reter o homem em um genjutsu com o seu Sharingan, e fazê-lo desmaiar.
Não havia necessidade de exterminar o inimigo. Quer os enviados deles retornassem ou não, o incidente aqui logo seria conhecido pelo País da Neve. Era vingança suficiente eliminar quem havia assassinado os quatro ninjas de Konoha. Deixar os outros viverem, e voltarem para casa para relatarem o verdadeiro poder de Konoha, seria uma medida mais eficaz contra o País da Neve.
“Eu sei”, disse ele às costas de Sugaru, enquanto o homem já se voltava para um novo inimigo; então, Itachi mirou em um novo alvo.
Havia quatro ninjas inimigos restantes. Eles já haviam perdido a vontade de lutar.
A lâmina de Sugaru voou em direção ao pescoço de um deles de joelhos, que implorava por sua vida. Além dele, o ninjutsu Estilo Madeira de Tenzō produziu galhos afiados que perfuravam as costas de uma kunoichi que tentava escapar.
“Isso fará do País da Neve e de Konoha inimigos!”
“Suas vidas impedirão isso”, murmurou Kakashi gentilmente, enquanto o seu braço rasgava o plexo solar do inimigo (nota: o plexo solar é uma rede de neurônios localizada no corpo humano na região do umbigo; chamado de chakra solar, é um importante centro energético o responsável pela força e vitalidade).
“Itachi!”, chamou Tenzō.
Itachi avistou um inimigo vindo em sua direção com um olhar macabro, preparado para a morte. Segurando uma kunai em ambas as mãos e cerrando os dentes enquanto corria até Itachi, o menino não tinha ainda sequer dez anos de idade.
O País da Neve era pequeno. Embora as grandes batalhas não mais existissem, em um país que ainda tinha poucos ninjas e um poder nacional imaturo, mesmo uma criança como ele tinha muito potencial de guerra.
“Aaah-rgh!”. Seu grito de batalha já soava como um choro.
Itachi deparou-se com o menino de frente. Uma dor aguda percorreu o seu estômago. A kunai do garoto o tinha apunhalado. Os ombros esbeltos deste tremiam ferozmente enquanto tocavam o abdome de Itachi. O terror do menino havia ultrapassado seus limites, e lágrimas começaram a lhe encher os olhos.
“Itachi!”, gritou Kakashi.
“Eu estou bem”, respondeu Itachi calmamente, e Kakashi e os outros o olhavam, cercando-o à distância.
Tremendo como uma folha, o garoto lentamente ergueu o rosto. Lágrimas escorriam dos olhos que olhavam para Itachi. “Ah. Aaaaahnn”, seu medo tornou-se sonoro, e escapava-no.
“Você é uma ninja de verdade agora. Seja forte”, disse Itachi gentilmente ao inimigo.
Em sua confusão e temor, o menino não tinha ideia do que estava acontecendo. Ele agitou a cabeça de um lado para o outro, desesperadamente tentando desviar os seus olhos da realidade.
“Você não fugiu; você veio direto até mim. Portanto, quero tratá-lo com a cortesia que um ninja de pleno direito merece”. Itachi apanhou sua kunai por detrás, para que o garoto não pudesse ver.
Ele levou sua lâmina de baixo para cima até a nuca esguia do pescoço de seu inimigo choroso. Ele gentilmente puxou a kunai do próprio estômago, e deu um passo para trás.
Um jato de sangue disparou do pescoço do garoto. Nada espirrou em Itachi. Isto também era uma etiqueta ninja. O corpo jovem caiu na pilha de cadáveres, de nem inimigos nem aliados.
“Isto também é um campo de batalha”, murmurou Itachi, alto o suficiente para ninguém ouvir.
Será que estou realmente aproximando-me do meu sonho?, Itachi se perguntava em seu coração. Ele sentia como se o seu corpo estivesse gradualmente ficando mais pesado, sendo enterrado no fluxo fácil do tempo. Seus dias de infância, quando ele rezava com todo o seu coração para que se tornasse um ninja mais forte do que qualquer outro já estavam distantes, e as amarras enroladas pelo seu corpo inteiro tentavam aprisionar Itachi na estrutura de ‘apenas um ninja’.
Se é assim, quero apenas simplesmente afastar-me da vila, do clã, da Anbu, e ser livre…
Ele sabia que isso nunca seria permitido.
Os olhos do garoto, desprovidos de luz, olhavam sem parar para o Itachi atormentado.
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“Faça uma lista do número de participantes esperados no momento da ação, rotas de invasão, alvos de ataque e alvos de assassinato. Eu gostaria de decidir sobre o dia crucial de ação na próxima reunião. Juntem as suas opiniões antes disso. Se você tiver quaisquer ideias, pode expressá-las a qualquer momento. Somente certifique-se em ter cuidado com os olhos das pessoas da vila”.
Quando Fugaku terminou de falar, os irmãos relaxaram por um momento. Eles estavam acalmando-se com a ideia de fim da reunião. Mas essa calma simples foi abalada pela voz tensa de Yashiro.
“Itachi está aqui?”
Itachi sentiu uma repulsa na voz que chamava o seu nome.
Quando ele não respondeu, a voz voltou a chamar o seu nome com irritação. “Itachi!”
“Estou aqui”. Itachi levantou um braço com má vontade.
Ao invés de repreender Itachi por sua atitude, Yashiro simplesmente o encarou com os olhos frios. “Você estava lá na ruptura das negociações com o País da Neve no outro dia, sim?”.
Itachi disse nada.
“Responda-me”.
“As missões da Anbu não devem ser faladas a não membros”.
“Você está realmente dizendo isso para mim?”. Uma ruga profunda surgiu entre as sobrancelhas de Yashiro.
Itachi encarou os olhos cerrados diante de si, sem responder.
“Por qual propósito você ingressou na Anbu?”
Itachi permanecia silente.
“Para obter uma variedade de informações de um local próximo ao centro da vila, e reportá-las a nós”, respondeu Yashiro a si mesmo.
“Yashiro-san”. Como se lançando ao filho silente uma corda de resgate, o pai disse o nome daquele que detinha a sua confiança.
Yashiro não se moveu para respondê-lo, mas simplesmente continuou encarando Itachi furiosamente. “O que você nos trouxe desde que ingressou na Anbu? Nenhuma vez ouvimos de sua boca segredos da vila”.
“Eu simplesmente não sei de nenhum, então não posso falar sobre eles”.
“É realmente só isso?”
“O que isso quer dizer?” O espírito de revolta cintilou nos olhos de Itachi.
Yashiro captou isso com um sorriso cínico atravessando o rosto, enquanto um homem de cabelos compridos levantava ao seu lado. Inabi Uchiha. Ele, também, detinha a confiança do pai de Itachi. “Você está se virando contra nós, não es…”
“Já chega!”, rugiu Fugaku.
Tanto Yashiro quanto Inabi foram forçados ao silêncio ante tal rara demonstração de raiva de Fugaku. “Você dois entendem exatamente o que este momento significa para o clã. Nós não podemos seguir adiante nestes assuntos sérios quando estamos sobre a garganta um do outro”.
Os homens ficaram em silêncio. Ao final, Yashiro sentou-se; descontente, Inabi seguiu o exemplo.
“Você, sente-se também, Itachi”. Seu pai o encarou. “Itachi”.
A voz de seu pai soou fraca para ele enquanto ele ainda permanecia de pé. Quase como uma súplica.
“Desculpe-me”. A dor no peito de Itachi naturalmente transformou-se em palavras, e derramou-se.
Seu pai tentava desesperadamente unir a todos. Por que ele estava sendo tão adulador, tentando aproximar todos? Era a estrutura do clã tão importante assim? Para Itachi, parecia que seu pai estava sendo explorado pela paixão dos homens mais jovens.
Eu não entendo…
“De qualquer forma, a próxima reunião decidirá o nosso caminho. Será uma reunião importante. Estejam cientes de que ausências não serão toleradas”.
Aquele encontro terminou com um alvoroço ainda no ar.
Itachi começou a caminhar para casa sozinho, sem olhar nos olhos de ninguém. Ele não viu sequer Shisui, nem Izumi.